É importante dizer que o saber é constituído por uma dupla face. A face semiológica ou semiótica (relativa ao significante) e a epistemológica (referente ao significado das palavras).
A semiótica tem, assim, a sua origem na mesma época que a filosofia e disciplinas afectas. Da Grécia até os nossos dias tem vindo a desenvolver-se continuamente. Porém, posteriormente, há cerca de dois ou três séculos, é que se começaram a manifestar aqueles que seriam apelidados pais da semiótica (ou semiologia).
Os problemas concernentes à semiótica podem retroceder a pensadores como Platão e Santo Agostinho, por exemplo. Entretanto, somente no início do século XX com os trabalhos paralelos de Ferdinand de Saussure e C. S. Peirce, a semiótica começa a adquirir autonomia e o status de ciência.
O lugar da semiótica dentro das ciências da comunicação depende do que se entende por comunicação. A comunicação é hoje um vastíssimo campo de investigação, das engenharias à sociologia e psicologia, pelo que as perspectivas em que se estuda podem variar significativamente. É certo que toda a comunicação se faz através de sinais e que esse facto constitui o bastante para estudar os sinais, sobre o que são, que tipos de sinais existem, como funcionam, que assinalam, com que significado, como significam, de que modo são utilizados. Contudo, o estudo dos sinais tanto pode ocupar um lugar central como um lugar periférico no estudo da comunicação. Tal como na arquitectura em que o estudo dos materiais, embora indispensável, não faz propriamente parte da arquitectura, assim também em determinadas abordagens da comunicação o estudo dos sinais não faz parte dos estudos de comunicação em sentido restrito. Daqui que seja fundamental considerar, ainda que brevemente, os principais sentidos de comunicação.
Que relação com o Design??
No decorrer do texto anterior,constatamos, que se design é comunicação, nós como designers devemos reconhecer a importância da semiótica nestas questões em que a relação humana se aplica através da criação de ideias. Cada vez menos, os novos designers se debruçam sobre estas questões, no entanto, o Design foi um dos campos profissionais em que houve um inicial e continuado, apesar de não generalizado, interesse na aplicação da semiótica. Na busca de construção de fundamentos teóricos numa área da actividade caracterizada pela ténue conceituação disciplinar, designers adoptaram a semiótica como base.
Isto aconteceu quando a Europa descobriu Charles Sanders Peirce. Segundo Nadin, isto deu-se quando Max Bense, ao dar continuidade à sua busca para uma fundamentação científica para estética, chegou à teoria do signo (1970, 1971); e quando designers do Leste Europeu, enfrentando os constrangimentos típicos de um pensamento dogmático, abordaram os problemas dos códigos. Nos Estados Unidos e no Brasil, o interesse dos designers em semiótica foi manifestado mais tarde por influência de estudantes ou professores da Hochschule für Gestaltung, em Ulm, como Klaus Krippendorff e Tomás Maldonado, ou pela contaminação de outros campos, predominantemente dos estudos literários, como os poetas e críticos vanguardistas de São Paulo, como Augusto e Haroldo de Campos e Décio Pignatari. O design é um conceito geral, reflectido na qualidade subjacente aos objectos, às ações e às representações que certas pessoas tornam possíveis numa dada cultura e dentro de uma estrutura do valor. Fazer design significa entre outras coisas, projectar, antecipar de acordo com um curso antevisto dos acontecimentos tendo em vista um objectivo e uma correlação com o ambiente. Hoje, em tempos de rápidas mudanças no contexto, de constante superação tecnológica, de surgimento veloz de novas preocupações, há a necessidade de uma consciência semiótica por parte dos designers, que se manifeste pelas qualidades comunicacionais dos produtos resultantes dos seus projectos. Atualmente, a participação do design aumentou na vida social e económica, uma tendência que sem dúvida continuará tendo em conta a evidente necessidade de melhorar as relações interpessoais, a interacção com a natureza e a exploração de novos domínios. É importante, por isso, nunca esquecermos que ser designer é mais do que projectar produtos. É sim resolver problemas. Assim sendo, alguns aspectos semióticos devem ser claramente explicitados para que se tenha uma compreensão do design. Além dos preceitos estéticos, funcionais e ergonómicos, o designer deve estar consciente das questões de significação do produto além da aplicação de conhecimentos complexos, do uso de meios de expressão sofisticados e da perseguição à inovação tecnológica, à funcionalidade e à alta qualidade estética. O processo de design, pelo seu caráter interdisciplinar, requer um procedimento integrado de diversas áreas do conhecimento (tecnologia, estética, comunicação etc). Com esses considerandos, em design não basta algo ser formalmente agradável, ser funcional, prover. É muitíssimo importante que também o produto tenha a mensagem adequada, “dizer” o que se pretende para quem interessa. Assim, entende-se que o design tem um papel social, e é este que constitui o espaço de intervenção semiótica. Como disse Nadin (1990), “o processo do design, em sua íntima relação com o design de produtos e seus usos, implica em inteligência do design, sensibilidade cultural e uma atitude crítica – componentes semióticos de muitas outras formas da atividade humana.” Pois o produto é portador de expressões das instâncias de elaboração e de produção: cultura e tecnologia. Quando ele entra em circulação além de portar essas expressões passa a ser também um elemento de comunicação, não só carrega informações objetivas mas também passando a ser suporte também de mensagens do usuário para si próprio e para os outros. Ou seja, ele “diz” àquele que o usa, ao que o contempla, e também por meio dele os indivíduos se articulam. Assim, o produto, além das funções prática, estética e de uso, tem a função significativa. O produto difunde valores e características culturais no âmbito que alcança. Portanto, os designers devem estar atentos à relação comunicativa estabelecida entre o produto e aqueles com quem ele interage: observadores, apreciadores, consumidores, usuários. Logo, os princípios do design são semióticos por natureza. Para que tal função seja adequadamente cumprida, os designers dedem se apoiar na semiótica. Ela ilumina o processo como se dá a construção de um sistema de significação. A partir desse quadro teórico pode-se identificar as variáveis intervenientes nessa dinâmica. Desse modo o produto de design é tratado como portador de representações, participante de um processo de comunicação. Fazer o design significa desenvolver um sistema de signos de tal modo que seja possível a consecução de metas humanas: comunicacional (como um modo de interação social), tecnológica, realização de tarefas, de solução de problemas, em suma. O resultado do projeto de design dá-se num ambiente de cultura e estabelece a ponte entre a ciência e a prática humana. O objecto da semiótica é o sistema de signos e seu funcionamento dentro de uma cultura.
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